Popularidade e inteligência são os ingredientes básicos de sua sobrevivência

O Pet Shop News convidou o escritor, compositor, que também é músico e jornalista, Nilson Ribeiro, para fazer uma surpreendente entrevista com Dogson Dalata, uma figura fácil nas imediações da Rodoviária, amigo de todos, principalmente os que estão comendo alguma coisa.
De porte médio, com pelos curtos amarelados (quando não estão marrons), orelhas em pé, olhar vivo (e pidão), pedigree assinado com todas as raças que existem. Ele tem poucas lembranças de mães, irmãos e tutores. Mas, apesar de tudo (ou quase nada que recebe), está sempre disposto a um bom papo, um futebolzinho ou carinhos, deixa a escolha do freguês.
Acompanhe os melhores momentos desta surpreendente entrevista com Dogson
– Não, senhor. Nome nunca ganhei, assim, um só meu. Me chamam de um monte de coisa. Vira-lata, sarnento, cão. Tem uma dona que aparece de vez em quando e que me chama de cachorrinho bonitinho. Vem, faz um cafuné e deixa uns biscoitos, comidas aí. E tem um moleque que me chama de Totó. Sabe… Joga uma bolinha, eu devolvo, ele me da um naco de pão. Do menino e da dona eu gosto. O menino, acho, é até meio assim como eu… Sem dono, sabe? Sem casa…
Nota do editor: Dogson, atende por tantos nomes que nem se lembra mais do nome correto. Assim, foi Seo Osvaldo, dono do açougue, que avisou o entrevistador do nome completo.
– Ah, sim. Morar na rua tem lá seus dias de aventura. Fora a chuva e o muito frio de umas noites. Aqui perto da Rodoviária tem certas regalias. Ali pra baixo o senhor do Dogão deixa umas salsichas. Meio velhas, acho. Mas, só uma vez me fez mal de verdade. Apesar de que, eu bem vi que verde não deveria ser a melhor cor de uma salsicha.
Mas eu também tava meio verde aquele fim de dia. A fome muda a cor da gente… Encarei. Rapaz… Quase uma semana de dores abdominais agudas… O quê? Ué. Sou vira-lata mas sou bem informado. Sei um monte de palavras difíceis, sim senhor. Um dos meus pontos de parada é na frente da banca de revistas do Joca. Tem um bando de doutores que passam por ali. Até um que cuida de cachorro. Dessa forma, foi ele que me viu gemendo e vomitando e me enfiou uma agulha no lombo. No outro dia tava bem melhor…
Viver nas ruas é um desafio diário

– Sim.. Tem uns dias de sorte. Finzinho de pastel, pedaço de kibe, biscoito de polvilho e até chocolate. Já reparei que quando to mais limpinho, depois de uma chuva por exemplo, ganho mais do que quando meus pelos amarelos estão mais pra marrons… Não devia ser o contrário? Pois não é. O povo não gosta de cachorro sujo. Ganho até vassouradas e sapatadas se estiver muito encardido. Mas limpinho… Gostam mais. Ganho mais. Então aprendi… Choveu, aproveito pra uma faxina. Entretanto, menos nas noites frias… Deus me livre. Pois, dormir molhado ao relento,seo moço, é demais pra mim… Já não sou mais tão jovem.
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– Minhas diversões? Antes eu corria atrás das rodas dos carros. Mas cansei. Ficou sem graça. Nunca me disseram o que fazer quando os carros param. E minhas juntas já não ajudam. A bolinha do menino me diverte. Andar por aí, sem rumo, pelas ruas próximas, é legal. Um poste aqui, outro ali para pipi-stop… Ah… Tem uma cachorrinha bem bacaninha na rua de cima. A gente se cheira quase todo dia. Só no portão. Mas é bem bom o cheiro dela. Os donos são gente boa também. Colocam água pra eu tomar de vez em quando.
– O quê? Morder alguém? Nunquinha. Nem me lembro como acabei aqui sozinho. Tenho algumas imagens na cabeça: um carro, alguém me soltando, sei lá…Eu era pequeno …Mas desde que me lembro de alguma coisa, jamais fiquei bravo com alguém. Pra ser sincero, bravo já fiquei. Um ou outro que me chuta ou me assusta. Mas, viro as costas e saio andando. Não vale a pena perder tempo com essas pessoas tristes…
– foi um prazer… Quando publicar, avisa…Vai na paz, irmão…
Astonishing interview with Dogson Dalata
Pet Shop News invited the writer, composer, who is also a musician and journalist, Nilson Ribeiro, to do an astonishing interview with Dogson Dalata, an well known figure that is in bus stations, friend of all, especially those who are eating something. Dogson tells in the interview what life is like on the street, where some people give food and affection, while others mistreat and do not want him to be nearby. It is a dog that has characteristics more like a person than with a dog. Dogson is a mongrel that can be found in any place in the world, from Auckland to Santiago, from New York to São Paulo.
2 Comentários. Deixe novo
Incrivel iniciativa essa “entrevista” com Dogson. Talvez, mostrando um pouco de graça de uma situação tao triste, possa tocar o emocional das pessoas e fazer com que ao invés de ignorar os vira-latas e seguir em frente, façam algo para diminuir o abandono de tantos coitados deixados à própria sorte. Que Deus abençoe essa iniciativa e que ela gere frutos.
Parabéns!
Marcelo
Canadá
Valeu Marcelo!!!
Obrigado por nos acompanhar! Certamente, ainda precisamos fazer muito para reduzir o abandono de animais! Forte abraço desde Brasil!!